sexta-feira, 5 de junho de 2009

Opinião: LRW - L’Appart

O fim-de-semana de experimentação de 29 a 31 de Maio do Lisboa Restaurant Week começou no L’Appart, restaurante do hotel Tiara Park Atlantic Lisboa. E começou bem! Numa sala de ambiente agradável fomos recebido por uma equipe muito educada e recheada de simpatia, com o dom de nos fazer sentir em casa mas no rigor necessário a um hotel de luxo, sem fazer distinção entre clientes de carta e curiosos do menu Lisboa Restaurant Week. Parabéns pela delicadeza. Uma nota à gerência do Tiara Park Atlantic Lisboa: o mobiliário riscado, cadeirões coçados e o mise en place de fraca qualidade não se adequa a um turista que procure um hotel cinco estrelas.

Amuse-bouche

Mousse de salmão fumado com meloa, doce de frutos silvestres e redução de balsâmico

Sem querer faltar com a verdade, este título dei-o pelo palato uma vez que foi uma deliciosa e delicada surpresa do restaurante que não vinha no menu. As minhas desculpas se há algum engano.

A mousse bem enriquecida pelo balsâmico, deixou dissolver na boca o verdadeiro sabor do salmão fumado com um travo a pinho que em conjunto com a meloa e o doce rasgam os preconceitos, como  já é habitual na alta gastronomia onde não há lugares fixos nos pratos por parte dos sabores. Tenho pena de os sabores estarem expostos tão abertamente à vista que, aparte do salmão fumado imperceptível a olho nu, teriam muito a ganhar se disfarçados. 

Entrada 

Vichyssoise de abóbora com requeijão de Seia e azeitonas, azeite DOP Casal Vilariça

A vichyssoise foi o único prato que me intrigou até, depois de deseducadamente desmanchar o queijo, encontrar nas azeitonas, dispostas de forma inteligente, a fonte da minha interrogação. Um prato muito bom e bem conseguido em que o creme lembra a sopa de abóbora da nossa infância, a sua suavidade eleva-a, o requeijão de Seia leva-nos de volta e a mistura do doce com o azeite voltam a quebrar barreiras. Sem pretensões, o doce diminuiria na quantidade e ocultava-o para aumentar o enredo, mantendo a beleza do prato.

Prato Principal

Pataniscas de camarão e coentros, creme fraiche, coulis de pimentos assados e mesclain de chicória, vinagrete de limão, queneles de arroz de feijão.

Mais uma vez o tradicional muito bem misturado com a cozinha requintada. As pataniscas apresentam com mestria o crocante das suas congéneres com o creme aveludado dos rissóis e vão misturar com o arroz de feijão numa nova viajem ao caseiro. O mesclain de chicória e a cama de pimentos fazem o twist do prato. Quanto ao vinagrete houve discórdia, uns defenderam que tinha o acalipado do limoncello, outros como eu acharam desagradável e a atirar para o detergente da loiça. Eu retirava, até por ser desnecessário numa boa salada. Mais uma falha apontável foi a falta de talheres de peixe, imperdoável no local onde se está.

Sobremesa 

Sericaia com parfait de ameixas de Elvas e sorbet de morangos.

A sericaia e as ameixas estavam óptimas, o sorbet de morangos (apesar de não ser Santini) saiu bem mas com exagero nos cristais de açúcar e o amanteigado sensível da nata foi muito de encontro ao meu gosto.

No final presentearam-nos com um pastelinho de nata e um horrível café queimado (falha grave), a quantidade geral foi muito bem equilibrada, e “quem tivesse dúvidas o pastel acabou com elas” (André Martinez). Um último apontamento: uma hora é pouco tempo para servir um menu, fica a sensação de despejo. A experiência foi boa e pretendo voltar ao almoço, pois penso que a luz natural dará muito a ganhar a uma sala com janelas tão amplas.

1 comentário:

Marez disse...

Talvez por ter uma relação afectuosa com o Park Atlantic fiquei feliz que o grupo que o comprou tenha mantido a decoração característica do hotel bem como o excelente serviço. Fomos muito bem recebidos e a cozinha não deixou de estar à altura do restaurante pelo facto de se tratar do menu LRW. Parabéns, conseguiram surpreender-me e cativar-me para lá voltar!