terça-feira, 9 de junho de 2009

Opinião: LRW – Spot São Luiz

No segundo dia (30 de Maio) o jantar do Lisboa Restaurant Week foi no restaurante Spot São Luiz, dentro do teatro com o mesmo nome, com ementa sob a responsabilidade do Chef Fausto Airoldi. Antes de mais tenho que dizer que é com pena minha que na página do Lisboa Restaurant Week já não figurem os menus dos restaurantes que integraram a iniciativa, motivo pelo qual, e dado o meu atraso em completar estes artigos de opinião, não posso pôr os nomes correctos dos pratos dos dois últimos restaurantes. As minha desculpas.

Com jantar marcado com uma semana de antecedência para as 22:30, só conseguimos jantar por volta da meia noite, deixando passar a mensagem da má organização das reservas, de algum modo diluída na simpatia do serviço e na oferta de algumas caipirinhas (demasiado enxaropadas diga-se), de pão com uma mousse atractiva e uma fusão leve e jovem de azeite e balsâmico. O bar de espera apresenta alguma cortesia e o contacto directo com a rua torna-o ideal para beber um copo nas noites atraentes da capital, pelo que choca entrar numa sala pedante no alvo e lamentável no mobiliário. A loiça emproada a contrastar com qualidade risível de uma “mesa que não se coaduna” (Gonçalo Silva) a balançar de um comensal para outro, num baile desconfortável durante toda a refeição que passo a descrever, deixando claro que de cada dois pratos era possível escolher um.

Entrada

Salada de fígados de frango com uvas


Os fígados quase crus não representaram o pior do prato deixando-se ultrapassar pela ausência minimalista de tempero na salada multifoliar de pacote como as muitas que pululam pelas grandes superfícies e que à última da hora utilizamos, por falta de tempo, para compensar um jantar com amigos. Surpreenderam pela positiva as uvas quentes que fariam toda a diferença caso o prato fosse bem executado, o que no conjunto teria a sua graça.

Salmorejo com presunto

Num pavor quase vampiresco (Maria Ramirez), o alho tomou de assalto o salmorejo, que aparentado com demasiada proximidade à textura do gaspacho deixaria qualquer andaluz bastante revoltado. Mais uma vez foi apenas um pormenor que brilhou: o presunto!

Prato principal

Crocante de alheira

Este prato andou de mãos dadas com o vergonhoso. A alheira, que até era boa, estava seca e deu como única indicação de crocante, apenas o exagero bacilento em pão ralado, intragável. As batatas idem e a salada transitou em características dos fígados da entrada. Para enganar a fome restou o ovo.

Bacalhau com Brás de espargos verdes

Finalmente algo de realmente positivo na refeição: o bacalhau, que tive a sorte de escolher. Acompanhado por um Brás normalíssimo de batata palha, e avaro em espargos o bacalhau foi o único destaque da noite. Macio, suculento e de confecção cuidada, deu um toque de requinte a um prato que de outra forma encontraríamos em qualquer restaurante de almoço, no intervalo do trabalho.

Sobremesa

Mousse de chocolate com espuma de morango


Como alguém disse e eu já não recordo quem: “eu gosto de dizer bem mas as pessoas raramente me dão oportunidade”, neste caso aplica-se. A mousse, embora saborosa, tinha o peso e a textura do cimento cola, o toque final de enfartamento no lamentável banquete. A espuma mais não era do que um gelado de morango vulgar espremido para dentro da taça para dar uma ajuda ao cansaço da mousse.


Apfelstrudel com gelado de baunilha


Esta sobremesa, que não tive a sorte de escolher, saiu-se bastante agradável mas não o suficiente para se destacar de um qualquer empacotado do mesmo género que os supermercados de desconto disponibilizam.

Café já nem nos atrevemos a beber! Saiu-nos o jantar perdido no sábado e será uma redundância dizer que esperava muito mais de Fausto Airoldi, uma vez que algo esperava com toda a certeza. A sensação com que saí de lá foi de mais um daqueles espaços destinados a enganar todos aqueles que, aderindo desesperadamente às modas, esperam aqui encontrar um esconderijo para a sua ignorância e falta de gosto, escudando-se na aprovação generalizada do lugar comum. Os nomes pomposos que não correspondem à mediocridade dos pratos até podem ter correspondência noutros trabalhos de Fausto Airoldi, aqui, não sei se era por ser menu Lisboa Restaurant Week, falharam redondamente. Saliento que isso não apresenta desculpa, pois para além de algumas das coisas servidas estarem na ementa, é mostrar pouco nível desperdiçar uma janela de oportunidade como esta, decepcionando os curiosos. Depois de tanto ouvir falar do restaurante e dos seus afamados brunches ficou o desejo de nunca lá mais voltar.

Em resumo e pedindo antecipadamente desculpa pela expressão grosseira: Ca porcaria!

2 comentários:

Unknown disse...

E viva o croquete de alheira.....

Marez disse...

Bem, há tantas coisas que gostaria de dizer acerca deste restaurante que nem sei por onde hei-de começar! Primeira grande critica é ao pretenciosismo daquela ementa (que foi o que me levou a lá ir), que nada condiz com os pratos apresentados! Já para não falar da maneira como o "Chef" (sim sabemos que era ele porque tinha escarrapachado na sua t-shirt)se pavoneava, contenha-se!.. nem o Ferran Adriá! Por fim só gostaria de mostrar a minha admiração para com a maneira com que o Chef conseguiu tirar o crocante de uma alheira! Ó senhor.. mais valia tê-la feita do modo tradicional...