terça-feira, 9 de junho de 2009

Opinião: LRW - Apontamentos finais

Muito boa iniciativa, a saudar, o Lisboa Restaurant Week, que terminou e não deixei de experimentar, no que o tempo e as reservas deixaram. Com muita pena minha, foram apenas três as visitas feitas, já comentadas, mas com esperança de aumentarem em número nas próximas edições, que confio bem sucedidas e multiplicadas por este país tão condimentado. Espero não descurarem o concelho de Loulé, a grande concentração de estrelas Michelin em Portugal.

A minha experiência foi, no global, generosamente compensadora, com apenas uma redonda desilusão, não entendendo como pode figurar num evento desta envergadura tão medíocre exemplo. Recomendo uma triagem a quem se propõe integrar um grupo cimeiro para representar a gastronomia que por cá se faz, mostrando desde já a capacidade de abnegação necessária e o espírito desinteressado para fazer parte da prova.

Brincadeiras aparte, os meus parabéns aos envolvidos no processo, primeiro pela ideia de trazer a terras lusas o evento, depois pela capacidade de ultrapassar os inúmeros entraves que em Portugal se fazem sentir, de cada vez que se tenta fazer algo. O evento acabou mas aproveitem para visitar o blogue.

Opinião: LRW – Faz Figura

No caso do restaurante Faz Figura, despedida do Lisboa Restaurant Week no almoço de 31, havia vários pratos no menu dos quais era possível escolher um, a meu ver uma forma fantástica de integrar a iniciativa, dando maior escolha aos visitantes. Em Santa Apolónia, o Faz Figura vale-se de uma sumptuosa vista sobre o rio Tejo, deliciando todos aqueles que têm a sorte de comer no terraço. Não foi o nosso caso. À chegada, alguém nos informou que para nosso bem, como estava um calor insuportável, a nossa reserva estava marcada, paternalmente, para a sala. Claro que teria adorado comer na varanda. Claro que compreendo com o preço reduzido do menu ser melhor para o negócio reservar a varanda, quase vazia, para os potenciais clientes “normais”. O que não aceito é a maneira enganosa com que nos tentam convencer de ser para o nosso bem, achando aqui os idiotas, incapazes de atingir um frontal e educado: “a varanda é só para a carta”. A este desagrado acrescento a rudeza dos empregados, lançando pratos para a mesa sem quaisquer cuidados de etiqueta, pratos esses apresentados seguidamente, mas apenas aqueles que entre nós escolhemos, mesmo tendo, deseducadamente, espreitado a experiência de outros, que me pareceram não ficar atrás.

Entrada

Rosti de Alheira com maçã, moscatel e compota de cebola roxa

Como bom português adoro alheira, como comensal que se preze adoro rosti. Um rosti de alheira tão bem elaborado como este é, para mim, um momento de deleite do qual nunca me canso. A companhia da maçã e da compota de cebola conseguem roubar o protagonismo à tradição e deixar a confusão de quem é afinal o acompanhamento, nesta aventura tão bem conseguida. A salada, embora dispensável, estava bem regada e servia muito bem no papel de cortar a intensidade de sabores.

Sopa fria de tomate com espuma de coentros

Aqui sim! Uma sopa fria tirada das partituras: o creme de tomate excelente, musical e quase sem desafinar, estendendo-se um pouco, e apenas, na quantidade. A espuma de coentros (obrigado, era uma espuma) e o azeite completam em cheio esta entrada, fresca e ideal para abrir o palato na sequência.

Prato principal

Lombinho de porco preto lacado com puré de batata e trufa

Bom, muito bom, estava o porco preto. Tenro, bem coberto, com o sabor adocicado na carne genuína de porco preto, acompanhada condignamente com a sinuosidade do gosto requintado, oculto no puré de batata e trufa.

Empada de Capão com vinagrete de maçã

Já me tinha apaixonado pela tradicionalíssima carne de capão, oportunidade gentilmente cedida pelo património gastronómico de Amiais de Baixo, perto de Santarém, que advoga para si a origem e a primazia na preparação do capão. Não pude deixar de pedir este prato que em nada desiludiu. A massa folhada estava crocante e estaladiça, como se lhe exige, o capão tenro, saboroso e empregue sem avareza num recheio deslumbrante, que só conseguiu melhorar quando se lhe juntaou o subtil vinagrete de maçã.

Sobremesa

Sopa de Morangos

Uma vez que contra o bom senso do que é desejável quando temos à disposição um menu fixo, deixaram faltar o soufflé de café com espuma de laranja, pelo que se pediu ao invés, uma sopa de morangos que, fugindo completamente ao requinte de toda a refeição, se limitou a um trivial puré de morangos acessível a quem seja o feliz proprietário de um copo de mistura, pois o gelado de manjericão que supostamente acompanharia, surpresa das surpresas, também não havia.

Mousse de chocolate branco com framboesas

Esta foi a única sobremesa completa que consegui provar, finalizando na perfeição a sequência de manjares apresentados. Estava deliciosa. A frescura das framboesas cortava com mestria a mousse de chocolate branco, que nada tinha de enjoativo, assemelhando-se a um leite creme ao qual não conseguimos destapar o segredo.

Fica uma nota muito positiva do restaurante e da comida, que um pouco à semelhança do confronto tradicional entre o local onde se situa e o espaço do restaurante, que o nega, também a comida usa os nossos hábitos mais enraizados dando-lhes, numa volta de sentidos, requintes gastronómicos que em ambos os casos dão tudo a ganhar para quem lá vai. Depois de já ter falado sobre o assunto ao início, quero ainda dizer que, como cartão postal, teriam mais a ganhar em deixar o cliente almoçar na varanda, para não conseguir viver sem lá voltar nas semanas seguintes e se banquetear no paraíso panorâmico. Claro que vou voltar, muitas vezes, mas sempre para a varanda. Muito bem!

Opinião: LRW – Spot São Luiz

No segundo dia (30 de Maio) o jantar do Lisboa Restaurant Week foi no restaurante Spot São Luiz, dentro do teatro com o mesmo nome, com ementa sob a responsabilidade do Chef Fausto Airoldi. Antes de mais tenho que dizer que é com pena minha que na página do Lisboa Restaurant Week já não figurem os menus dos restaurantes que integraram a iniciativa, motivo pelo qual, e dado o meu atraso em completar estes artigos de opinião, não posso pôr os nomes correctos dos pratos dos dois últimos restaurantes. As minha desculpas.

Com jantar marcado com uma semana de antecedência para as 22:30, só conseguimos jantar por volta da meia noite, deixando passar a mensagem da má organização das reservas, de algum modo diluída na simpatia do serviço e na oferta de algumas caipirinhas (demasiado enxaropadas diga-se), de pão com uma mousse atractiva e uma fusão leve e jovem de azeite e balsâmico. O bar de espera apresenta alguma cortesia e o contacto directo com a rua torna-o ideal para beber um copo nas noites atraentes da capital, pelo que choca entrar numa sala pedante no alvo e lamentável no mobiliário. A loiça emproada a contrastar com qualidade risível de uma “mesa que não se coaduna” (Gonçalo Silva) a balançar de um comensal para outro, num baile desconfortável durante toda a refeição que passo a descrever, deixando claro que de cada dois pratos era possível escolher um.

Entrada

Salada de fígados de frango com uvas


Os fígados quase crus não representaram o pior do prato deixando-se ultrapassar pela ausência minimalista de tempero na salada multifoliar de pacote como as muitas que pululam pelas grandes superfícies e que à última da hora utilizamos, por falta de tempo, para compensar um jantar com amigos. Surpreenderam pela positiva as uvas quentes que fariam toda a diferença caso o prato fosse bem executado, o que no conjunto teria a sua graça.

Salmorejo com presunto

Num pavor quase vampiresco (Maria Ramirez), o alho tomou de assalto o salmorejo, que aparentado com demasiada proximidade à textura do gaspacho deixaria qualquer andaluz bastante revoltado. Mais uma vez foi apenas um pormenor que brilhou: o presunto!

Prato principal

Crocante de alheira

Este prato andou de mãos dadas com o vergonhoso. A alheira, que até era boa, estava seca e deu como única indicação de crocante, apenas o exagero bacilento em pão ralado, intragável. As batatas idem e a salada transitou em características dos fígados da entrada. Para enganar a fome restou o ovo.

Bacalhau com Brás de espargos verdes

Finalmente algo de realmente positivo na refeição: o bacalhau, que tive a sorte de escolher. Acompanhado por um Brás normalíssimo de batata palha, e avaro em espargos o bacalhau foi o único destaque da noite. Macio, suculento e de confecção cuidada, deu um toque de requinte a um prato que de outra forma encontraríamos em qualquer restaurante de almoço, no intervalo do trabalho.

Sobremesa

Mousse de chocolate com espuma de morango


Como alguém disse e eu já não recordo quem: “eu gosto de dizer bem mas as pessoas raramente me dão oportunidade”, neste caso aplica-se. A mousse, embora saborosa, tinha o peso e a textura do cimento cola, o toque final de enfartamento no lamentável banquete. A espuma mais não era do que um gelado de morango vulgar espremido para dentro da taça para dar uma ajuda ao cansaço da mousse.


Apfelstrudel com gelado de baunilha


Esta sobremesa, que não tive a sorte de escolher, saiu-se bastante agradável mas não o suficiente para se destacar de um qualquer empacotado do mesmo género que os supermercados de desconto disponibilizam.

Café já nem nos atrevemos a beber! Saiu-nos o jantar perdido no sábado e será uma redundância dizer que esperava muito mais de Fausto Airoldi, uma vez que algo esperava com toda a certeza. A sensação com que saí de lá foi de mais um daqueles espaços destinados a enganar todos aqueles que, aderindo desesperadamente às modas, esperam aqui encontrar um esconderijo para a sua ignorância e falta de gosto, escudando-se na aprovação generalizada do lugar comum. Os nomes pomposos que não correspondem à mediocridade dos pratos até podem ter correspondência noutros trabalhos de Fausto Airoldi, aqui, não sei se era por ser menu Lisboa Restaurant Week, falharam redondamente. Saliento que isso não apresenta desculpa, pois para além de algumas das coisas servidas estarem na ementa, é mostrar pouco nível desperdiçar uma janela de oportunidade como esta, decepcionando os curiosos. Depois de tanto ouvir falar do restaurante e dos seus afamados brunches ficou o desejo de nunca lá mais voltar.

Em resumo e pedindo antecipadamente desculpa pela expressão grosseira: Ca porcaria!

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Opinião: LRW - L’Appart

O fim-de-semana de experimentação de 29 a 31 de Maio do Lisboa Restaurant Week começou no L’Appart, restaurante do hotel Tiara Park Atlantic Lisboa. E começou bem! Numa sala de ambiente agradável fomos recebido por uma equipe muito educada e recheada de simpatia, com o dom de nos fazer sentir em casa mas no rigor necessário a um hotel de luxo, sem fazer distinção entre clientes de carta e curiosos do menu Lisboa Restaurant Week. Parabéns pela delicadeza. Uma nota à gerência do Tiara Park Atlantic Lisboa: o mobiliário riscado, cadeirões coçados e o mise en place de fraca qualidade não se adequa a um turista que procure um hotel cinco estrelas.

Amuse-bouche

Mousse de salmão fumado com meloa, doce de frutos silvestres e redução de balsâmico

Sem querer faltar com a verdade, este título dei-o pelo palato uma vez que foi uma deliciosa e delicada surpresa do restaurante que não vinha no menu. As minhas desculpas se há algum engano.

A mousse bem enriquecida pelo balsâmico, deixou dissolver na boca o verdadeiro sabor do salmão fumado com um travo a pinho que em conjunto com a meloa e o doce rasgam os preconceitos, como  já é habitual na alta gastronomia onde não há lugares fixos nos pratos por parte dos sabores. Tenho pena de os sabores estarem expostos tão abertamente à vista que, aparte do salmão fumado imperceptível a olho nu, teriam muito a ganhar se disfarçados. 

Entrada 

Vichyssoise de abóbora com requeijão de Seia e azeitonas, azeite DOP Casal Vilariça

A vichyssoise foi o único prato que me intrigou até, depois de deseducadamente desmanchar o queijo, encontrar nas azeitonas, dispostas de forma inteligente, a fonte da minha interrogação. Um prato muito bom e bem conseguido em que o creme lembra a sopa de abóbora da nossa infância, a sua suavidade eleva-a, o requeijão de Seia leva-nos de volta e a mistura do doce com o azeite voltam a quebrar barreiras. Sem pretensões, o doce diminuiria na quantidade e ocultava-o para aumentar o enredo, mantendo a beleza do prato.

Prato Principal

Pataniscas de camarão e coentros, creme fraiche, coulis de pimentos assados e mesclain de chicória, vinagrete de limão, queneles de arroz de feijão.

Mais uma vez o tradicional muito bem misturado com a cozinha requintada. As pataniscas apresentam com mestria o crocante das suas congéneres com o creme aveludado dos rissóis e vão misturar com o arroz de feijão numa nova viajem ao caseiro. O mesclain de chicória e a cama de pimentos fazem o twist do prato. Quanto ao vinagrete houve discórdia, uns defenderam que tinha o acalipado do limoncello, outros como eu acharam desagradável e a atirar para o detergente da loiça. Eu retirava, até por ser desnecessário numa boa salada. Mais uma falha apontável foi a falta de talheres de peixe, imperdoável no local onde se está.

Sobremesa 

Sericaia com parfait de ameixas de Elvas e sorbet de morangos.

A sericaia e as ameixas estavam óptimas, o sorbet de morangos (apesar de não ser Santini) saiu bem mas com exagero nos cristais de açúcar e o amanteigado sensível da nata foi muito de encontro ao meu gosto.

No final presentearam-nos com um pastelinho de nata e um horrível café queimado (falha grave), a quantidade geral foi muito bem equilibrada, e “quem tivesse dúvidas o pastel acabou com elas” (André Martinez). Um último apontamento: uma hora é pouco tempo para servir um menu, fica a sensação de despejo. A experiência foi boa e pretendo voltar ao almoço, pois penso que a luz natural dará muito a ganhar a uma sala com janelas tão amplas.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Sabores do Algarve

De 6 a 14 de Junho decorre em vários restaurantes da região algarvia o evento Sabores do Algarve que, com a obrigatoriedade de pratos e vinhos regionais, pretende celebrar uma semana gastronómica que impulsione a divulgação destes produtos aos mais distraídos. “A organização está a cargo do Turismo do Algarve, em parceria com a Associação dos Industriais Hoteleiros e Similares do Algarve (AIHSA), a Confraria dos Enófilos e Gastronómica do Algarve, a Confraria dos Gastrónomos do Algarve, a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), a Escola de Hotelaria e Turismo do Algarve (EHTA) e os 16 Municípios do Algarve.” Se a temática lhe abriu o apetite pode consultar a lista de restaurantes, pratos e vinhos aqui. A não perder!